quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Embolia Gasosa : Identificando, Tratando e Prevenindo


  A embolia gasosa é um risco potencial de qualquer acesso venoso central, sendo uma rara, porém grave complicação, com uma taxa de mortalidade relatada de 30 a 50%. Deve ser suspeitada em qualquer paciente com cateter venoso central que subitamente desenvolva hipoxemia inexplicável ou colapso cardiocirculatório. O ar pode entrar na veia diretamente pela agulha de punção, durante a permanência do cateter na veia central, por desconexão ou fratura do cateter, e durante a sua retirada, pelo trajeto no subcutâneo. A quantidade de ar estimada para produzir o quadro de embolia gasosa significativa é entre 300 e 500 ml de ar, numa taxa de 100 ml/segundo. Porém, quantidades menores podem ser fatais nos pacientes gravemente enfermos e com reserva cardiopulmonar limitada.
  A interação do sangue com ar desencadeia agregação de plaquetas, hemácias e glóbulos de gordura às bolhas de ar, promovendo obstrução de vasos pulmonares, com conseqüente aumento da resistência vascular, redução da complacência pulmonar e hipoxemia grave, assim como instabilidade hemodinâmica concomitante, relacionada a hipertensão pulmonar aguda.

  A embolia gasosa pode manifestar-se por dispnéia súbita, ansiedade, tonturas, náuseas, e sensação de morte iminente, ou dor retroesternal. Sinais neurológicos como confusão, obnubilação e perda da consciência podem ocorrer imediatamente. Estes mesmos sinais podem ser secundários a hipóxia cerebral, pela hipoxemia e instabilidade hemodinâmica sistêmica, ou por isquemia, pela passagem de ar na circulação arterial sistêmica causando embolia arterial cerebral.
  Condições que reduzem a pressão venosa central predispõem à embolia gasosa, incluindo a taquicardia, hipovolemia e a cabeleira elevada, assim como as que incrementam a pressão negativa intratorácica, como a hiperventilação.
  Os pacientes com suspeita de embolia gasosa devem ser imediatamente posicionados em decúbito lateral esquerdo e com a cabeça abaixada (posição de Trendelemburg), colocando desta maneira a via de saída do ventrículo direito em uma posição inferior à cavidade ventricular direita, facilitando a migração do ar para a porção mais elevada. A aspiração de ar do ventrículo direito pode ser tentada se o cateter estiver posicionado, porém não se justifica a passagem de outro cateter apenas para este fim.
  Para reduzir o tamanho das bolhas, todos devem ser colocados em oxigênio a 100%. Os que não respondem a estas medidas, a oxigenioterapia hiperbárica deve ser considerada, reduzindo o tamanho das bolhas pela difusão do nitrogênio induzida pelo alto PO2 alveolar.
  A prevenção da embolia gasosa é essencial. Tanto a colocação quanto a retirada dos cateteres venosos centrais devem ser realizadas em decúbito dorsal e em posição de Trendelemburg, aumentando a pressão venosa. Na retirada, o orifício de entrada na pele deve ser imediatamente ocluído. Se possível, evitar o acesso venoso central em pacientes taquidispnéicos ou ansiosos; nos hipovolêmicos, a hidratação prévia deve ser realizada. Conectores tipo Luer-Lok devem ser usados para prevenir a desconexão acidental. A vigilância continuada dos cateteres é obrigatória durante todo o período de permanência.

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